quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Drummond em Madri


Ufa! Enfim voltou a vontade de escrever! Depois de uma viagem inesquecível, veio uma necessidade de aquietar, de ficar meio longe da tecnologia, pensar em outros meios e de outras formas. Mas aos poucos, postarei cenas que percebi junto com minhas inspirações!
Essa foto tirei do casal que estava em um café em Madri. Pareciam estar super perto um do outro. Me lembrei deste poema de Drummond...

"Reconhecimento do Amor

(...) Amiga, amada, amada amiga, assim o amor; dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo; com olhar pervagante e larga ciência das coisas.
Já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos, e a pura essência em que nos transmutamos dispensa alegorias, circunstâncias, referências temporais, imaginações oníricas, o vôo do Pássaro Azul, a aurora boreal (...) todas as imposturas da razão e da experiência, para existir em si e por si, à revelia dos corpos amantes (...)
Agora,amada minha para sempre, nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar a melodia, a paisagem, a transparência da vida, perdidos que estamos na concha ultrmarina de amar."

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Pintor de Retratos


Luiz Antônio de Assis Brasil é autor do livro "O Pintor de Retratos", que acabei de ler.
Ele conta a história de Sandro Lanari, um pintor que começa a se questionar e a conhecer um novo mundo quando conhece Nadar, um curioso fotógrafo, que diziam conseguir capturar a alma de suas modelos.

A essência do livro é representada no discurso de Nadar que, ao ser questionado por Lanari sobre uma bela fotografia de uma modelo, diz:

"Maravilhoso? Este é um critério leviano. A questão é saber apanhar o caráter moral do modelo: isso é arte. Ouça: eu jamais conseguiria essa foto se, antes de ser fotógrafo, eu não fosse ser humano. O resto é prá divertir ou ganhar dinheiro (...) e o senhor? Sabe o que é arte? (....) arte, meu caro, é a única filosofia que pode explicar a natureza humana. A arte não existe sem a humanidade do homem que a cria, e a humanidade de quem a vê."

Acho que ele diz tudo... levarei essa essência comigo para a viagem!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Santos (... ou Anda Luzia...)



"Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal".

Manoel de Barros